Pia Sundhage: conheça a técnica da seleção brasileira na Copa do Mundo 2023

Pia Sundhage: conheça a técnica da seleção brasileira na Copa do Mundo 2023

Pia Sundhage: conheça a técnica da seleção brasileira na Copa do Mundo 2023

“Pia Sundhage, de 11 anos, de Ulricehamn, foi definitivamente uma das sensações da noite. Ela tocou violão e cantou duas canções cativantes do country inglês”. Assim um jornal sueco relatou a apresentação da pequena Pia Mariane Sundhage no Talent-71, um concurso musical amador realizado na cidade de Brämhult, em 1971.

A música sempre esteve presente na vida da treinadora de 63 anos e é ainda hoje um hobby. Mas para sorte do futebol mundial, a paixão pela bola falou mais alto. Aos 15 anos, a talentosa atacante do IFK Ulricehamn já jogava na seleção principal da Suécia.

Na época, sem muitos times femininos onde jogar, chegou a se disfarçar de menino, sob o apelido pouco modesto de Pelle, para atuar em um time masculino, por sugestão de um treinador.

— Eu pude jogar com um time de garotos, por causa de um treinador, Kent Olof. Ele disse: “Você quer jogar futebol de verdade, com árbitros, trave e rede?”. Sim, eu quero. “Então, vamos enganá-los um pouco. Vou te chamar de Pelle, em vez de Pia”. Então, eu fui chamada de Pelle por dois anos e joguei no time masculino do Marbäcks IF — contou Pia em entrevista para a Fifa TV, em dezembro do ano passado.

Campeã, artilheira e craque da primeira Euro Feminina

Com quase 50 anos dedicados ao futebol, hoje Pia não precisa se disfarçar para fazer parte do mais alto círculo do futebol mundial. Uma das finalistas do último Fifa The Best, prêmio que ela conquistou em 2012, à frente da seleção dos EUA, a treinadora do Brasil chega à Copa do Mundo na Austrália e Nova Zelândia respeitada como um dos grandes nomes da modalidade.

Não fosse a invisibilidade que marcou o jogo das mulheres por décadas, Pia Sundhage já teria tido esse reconhecimento quando encerrou a carreira de jogadora, em 1996.

O currículo fala por si: Pia foi campeã, artilheira (quatro gols) e eleita melhor jogadora da primeira Euro Feminina, em 1984 – no mesmo ano, o francês Michel Platini foi campeão, artilheiro e destaque da Euro masculina. Desnecessário dizer o único nome festejado e reconhecido mundialmente por seu talento na época e nos muitos anos seguintes.

Pia fez o gol da vitória por 1 a 0 sobre a Inglaterra no jogo de ida da final, e coube também à atacante a última cobrança na disputa de pênaltis que garantiu o título sueco, no jogo de volta, diante de 2.567 torcedores no acanhado estádio de Kenilworth Road, em Luton.

De fato, a trajetória de Pia Sundhage no futebol teve menos testemunhas do que merecia não só a sueca como todo o futebol feminino. Uma injustiça que o tempo, aos poucos, foi tratando de corrigir.

Com Pia em campo, a Suécia esteve no pódio em outras três Euros: terceira colocada em 1989, vice-campeã em 1987 e 1995. Também ficou em terceiro no torneio embrionário de 1979, precursor da Euro.

Ainda hoje, Pia está entre os maiores nomes da seleção feminina da Suécia: é a décima jogadora com mais partidas (146) e a terceira maior artilheira (71 gols), empatada com sua contemporânea Lena Videkull. As duas chegaram a liderar a artilharia histórica da seleção, até serem ultrapassadas por Hanna Ljungberg (72) e Lotta Schelin (88).

Três duelos com o Brasil em Copas e dois Olimpíadas

Pia jogou as duas primeiras Copas do Mundo, em 1991 (terceira colocada) e 1995. Nas duas, enfrentou o Brasil, e foi dela um dos gols da vitória por 2 a 0 na terceira rodada do Grupo B no primeiro Mundial Feminino. Quatro anos depois, então capitã da Suécia, Pia levou o troco: Roseli decretou a vitória brasileira por 1 a 0. Pia e Brasil estavam só começando seus encontros – seriam cinco ao todo, como jogadora e técnica, com derrotas marcantes para a seleção brasileira.

Chuteiras penduradas, Pia não ficou muito tempo longe do futebol. Em 1998, dois anos após a aposentadoria, ela já era assistente técnica do Vallentuna BK, da Suécia. Trabalhou em clubes do seu país e dos EUA, até mudar o foco da carreira e se tornar “treinadora de seleção”, em 2007.

Após uma breve passagem como assistente na seleção chinesa, durante a Copa do Mundo de 2007, assumiu no fim daquele ano o comando da poderosa seleção dos Estados Unidos, já bicampeã mundial (1991 e 1999) e bi olímpica (Atlanta-96 e Atenas-2004).

Bicampeã olímpica à frente dos EUA

Nos cinco anos sob o comando de Pia Sunhdage, os EUA ganharam dois ouros olímpicos (Pequim-2008 e Londres-2012) e foram vice-campeões mundiais na Copa da Alemanha-2011, perdendo o título nos pênaltis para o Japão.

A passagem pelos EUA deixou marcas duras no futebol feminino do Brasil, derrotado na final das Olimpíadas de Pequim (1 a 0, na prorrogação) e nas quartas de final da Copa de 2011, nos pênaltis (após empate em 2 a 2, com o segundo gol americano marcado nos acréscimos da prorrogação).

Após cinco anos dirigindo os EUA, Pia voltou para a Suécia, para dirigir a seleção do seu país. E o Brasil sofreu de novo com a treinadora. E dessa vez o golpe foi duro: no Maracanã lotado, a Suécia segurou o a 0 a 0 na semifinal das Olimpíadas do Rio-2016, eliminando a seleção da casa nos pênaltis.

Violão acompanha a treinadora no Brasil

Agora, chegou a vez de compensar por todo o sofrimento do passado. Em agosto de 2019, Pia Sundhage deixou a seleção sub-17 sueca, que comandou por dois anos, para assumir o desafio de comandar a renovação da seleção brasileira, que buscava retomar protagonismo após cair nas oitavas de final nas duas Copas anteriores (Canadá-2015 e França-2019).

Lembra do violão? Sim, Pia nunca abandonou a música. Na sua primeira entrevista exclusiva como técnica do Brasil, para o Esporte Espetacular, logo após sua contratação, tocou e cantou para a reportagem a canção The Times They Are A-Changin’ (Os tempos estão mudando), do ídolo Bob Dylan, uma de suas referências musicais, junto com Simon & Garfunkel (veja reportagem acima).

Nos últimos quatro anos, o Brasil conheceu um pouco mais de Pia. Aprendeu que seu sobrenome é um pouco difícil de falar, algo como Sundrróg. Lamentou a eliminação do Brasil nas quartas de final dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021.

A torcida brasileira também deu adeus à eterna Formiga, que se aposentou da seleção no fim daquele ano. Esbravejou contra Pia por prescindir de Cristiane em quase todo o ciclo, especialmente nas Olimpíadas e mesmo agora, na nada surpreendente ausência da camisa 9 na lista para a Copa.

Mas também viu, pelas mãos da sueca, a seleção rejuvenescer, sem perder sua identidade. O Brasil de Pia vai jogar na Austrália ainda com estrelas experientes – lideradas por Marta, em seu último Mundial, aos 37 anos – e 11 estreantes em Copas, incluindo possíveis titulares, como Antônia, Duda Sampaio e Kerolin.

Uma treinadora com carreira vitoriosa dentro e fora de campo, uma seleção tradicional, presente em todas as Copas do Mundo, e um sonho em comum: levantar pela primeira vez o título mundial.



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